No mês passado tive a oportunidade de conhecer pela primeira vez um pouco desse lugar maravilhoso que é o nordeste do Brasil. Como fui para um evento acadêmico na Universidade Federal da Paraíba, entre uma palestra e outra, dei um jeito de conhecer João Pessoa e alguns municípios nos arredores. Assim acabei conhecendo a Paraíba e me encantando um pouco mais pelo Brasil.
Então vou começar meu registro pela capital João Pessoa, onde fiquei hospedada. Pois a coisa mais bonita da cidade é a praia principal em contraste com os grandes prédios. De fato é uma cena muito bela de se ver. Porém eu tive um certo estranhamento, confesso. É que estou acostumada com o conceito de praia urbana desenvolvida, com muita infraestrutura de comércio. Então pensar que faltam quiosques, sorveterias e feirinhas, por exemplo, me fez pensar que cada lugar é realmente único. E que talvez o charme da cidade é justamente essa simplicidade que habita em cada esquina de frente para aquele mar azul encantador.
O centro da cidade é bastante histórico e foi uma visita bem gostosa, principalmente porque estava tudo bem cuidado e limpinho. Prédios coloridos em meio a uma arquitetura mais clássica tem bastante a cara do Brasil. A única coisa negativa que pude vivenciar foi a questão da violência, como me relataram que a cidade tem altos índices de roubos e assaltos, pude compreender porque o centro funcionava por horários bem reduzidos e muitos comércios eram literalmente a portas trancadas.
Essa questão de portas trancadas foi a única coisa que realmente me fez pensar. Por exemplo, teve uma vez que fui em uma pizzaria que me foi recomendada e tudo estava fechado. Presumi que não estava funcionando e já estava indo embora, quando uma pessoa abriu a porta e eu pude ver que tinham dezenas de pessoas jantando. Logo ao entrar e sentar à mesa observei o garçom se dirigir até a porta e tranca-la novamente. E assim, fiquei literalmente trancada dentro de um restaurante que funcionava normalmente. Ao questionar o garçom dessa prática ele me disse que era para evitar roubos, que eram muito frequentes na cidade. Olha, eu não sei até que ponto isso se dá, mas a verdade é que encontrei em muitos aspectos da cidade o reflexo de uma certa insegurança.
Já para conhecer outros municípios da cidade peguei um certo trem que mais parecia um trem da morte. Bonitinho, todo colorido, mas os vagões eram bastante velhos e deficitários. Ao chegar no município de Conde e Cabedelo, achei as praias mais paradisíacas e encantadoras, onde finalmente fiquei impressionada. Foi ali que pude me sentir como turista em uma grande viagem.
O município de Conde fica ao sul e abriga as praias mais naturais e lindas da Paraíba. Quer dizer, pelo menos foi o que me disseram, e pessoalmente não tive como discordar. A cor do mar era tão vibrante que ofuscava minha vista. Uma areia fina e quase branca que era deliciosa de pisar. Lindas pedras, restaurantes rústicos… um verdadeiro cenário de filme. Acho que a coisa mais gostosa foi entrar em uma espécie de piscina natural, que nada mais é que o encontro do rio Maceiozinho com o mar na praia de Tabatinga. Isso porque o rio com sua água doce em temperatura ambiente contrastava com a água do mar salgada e extremamente gelada. Dava para ter várias sensações e emoções em um único espaço-tempo. Foi a melhor lembrança de toda viagem.
Contudo, a lembrança mais negativa também ocorreu nesse espaço. O mar em si era bastante diferente do que estou acostumada, com muitas algas e bichos marítimos. Para quem gosta, maravilha, agora eu que sou um bicho urbano, não curti muito. Entrei muito pouco na água, até porque o mar estava bastante agitado também. Tive um infeliz episódio de quase morte, pois fui caminhando pela praia sem perceber que a maré estava subindo e quando notei já não podia mais voltar pela areia. Tive que voltar por pedras super escorregadias e cheias de bichos como escorpiões. Sem dúvidas aprendi que esse tipo de trip requer habilidade de estar na natureza e que esses rolês roots são meio que demais para mim.
Assim também em Conde, tive a refeição mais deliciosa da viagem. Comi um peixe assado com fritas, sopa de caranguejo com cerveja e limonada, em um restaurante que ficava literalmente em cima do mar. Aquela vista paradisíaca, comida simples brasileira… não tem como dar errado.
E assim conheci também Cabedelo, uma cidade que fica ao norte da capital. Confesso que foi uma visita rápida e bastante tímida. Estava um tempo nublado e eu tinha apenas 4 horas antes de ir embora, mesmo assim foi um lugar que amei muito. A praia lá era deliciosa, muito diferente do sul. Além de que estava mais tranquila e não era tão selvagem (em termos de bichos e plantas). Pude então curtir bastante.
E no último dia levei o B. para comer comida típica nordestina. Carne de bode, baião de dois, galinhada, mungunzá… É que como neta de nordestinos desde pequena estive habituada a comer a comida típica do nordeste. Porém honestamente eu nunca gostei. É tudo muito forte para o meu paladar e não fazia menor questão de experimentar novamente. De toda forma senti que ele precisava ter essa experiência então fomos em um restaurante de bairro roots, daqueles que dá para entrar na cozinha para ver a dona cozinhando aqueles caldos cheios de gorduras e temperos em panelas de quase meio metro de altura. E com toda certeza foi uma experiência bastante satisfatória, afinal nenhuma viagem se faz sem explorar o lado da culinária, que é uma parte tão importante do modo de vida local.
Que essa semana vai deixar saudade, com certeza. Mas maior que a saudade é a experiência que trouxe comigo de dias lindos vivenciando uma cultura que me é tão próxima, apesar dos milhares de quilômetros que nos separam.